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Circo Dayllon - Palhaço Pipokinha |
A arte de todo palhaço está em fazer rir a multidão que lota
o circo. Algumas pessoas ali, já felizes buscam apenas mais um momento de
alegria, outras pinceladas com o a cor negra da tristeza procuram alguma razão
pra voltar a sorrir. Lá no centro, alvo de todos os olhares está o palhaço, o
verdadeiro artista da alegria. Todos na platéia já sabem que em algum momento
ele dará um chute nas nádegas de outro palhaço, que se espatifará no chão e que
também irá esguichar água no rosto de alguém usando a rosa que leva em seu
bolso.
A verdadeira graça não está nas coisas que o palhaço faz, mas sim em
como ele faz. Ele é o verdadeiro artista que faz a mesma coisa todos os dias
com a mesma paixão e vontade de fazer rir como se fosse a primeira vez. O
palhaço anima o circo, ele vive o circo, ele é o circo.
Mas o que acontece quando a chama ardente leva
embora o sonho feito de lona?
Quando o picadeiro torna-se uma lembrança, quando
as luzes que iluminavam o palhaço podem ser vistas apenas em seus sonhos,
quando as palmas e gargalhadas durante o espetáculo tornam-se desejos e não
mais realidade é quando o palhaço gentilmente tira a maquiagem de seu rosto e
deixa mostrar o homem que ali habita. O que antes fora uma pintura perfeita
rapidamente se torna apenas um borrão que com mais algumas passadas do algodão magicamente
some e leva consigo toda cor do palhaço.
Sem circo onde atuar nem multidão para
aplaudir o palhaço deixa uma lágrima escorrer de seus olhos e como um rio que
encontra o mar ela faz seu caminho por entre as rugas daquele rosto até tocar o
chão. Triste lágrima aquela, tão pequena que cabe na ponta de um dedo, mas com
uma tristeza que só quem a despejou sabe o tamanho que tem. Sem circo não há
alegria, não há aplausos, não há arte, não há vida.
Às vezes em meus momentos loucos de solidão, sentado no meu
picadeiro vazio me pergunto quantos de nós somos hoje palhaços a chorar. Me
pergunto quantos de nós vimos há dias, meses ou anos os nossos circos se
deixarem levar pelas chamas do tempo, da rotina, do cansaço, da falta de
dedicação, da falta de vontade, da falta de amor.
Nossos circos que antes eram
nossos portos seguros contra a tempestade agora são apenas uma imagem linda e
saudosa que habita em nossas mentes e traz sentimentos maravilhosos em nossos
corações. Quantos de nós queríamos pelo menos por mais uma única vez poder ter
o direito de um espetáculo final com a casa cheia, só mais uma cena, só mais
uma noite para fazermos de novo aquilo que sempre fizemos tão bem. Apenas mais
uma chance para sermos mais artistas e menos lágrimas. Mas o grande senhor da
vida não nos deixa jamais voltar e dar um último espetáculo, pois cada momento
é único e talvez por isso a saudade seja tão mais pesada que o mar.
Quando as chamas consomem o sonho e o transformam
em fumaça leve que é levada com o vento, o que resta a nós palhaços é mais uma
vez fazer as malas e seguir em frente deixando para trás uma lágrima de cada
vez; seguir em frente com a esperança de que um dia possamos novamente ter o
nosso circo de volta e enfim voltarmos a ser felizes.
Todos os créditos ao Blog: http://frasessemponto.blogspot.com.br/2011/05/picadeiro-quando-o-palhaco-chora.html